Thursday, January 24, 2013

Isto não é o Dakar


No fim-de-semana passado, fui surpreendido com o final de mais prova do Dakar. Vi a notícia aqui – http://www.record.xl.pt/Modalidades/Motores/todo_terreno/interior.aspx?content_id=799845

Ao contrário de muitos parceiros da infância e juventude, que se plantavam à frente do televisor para se banharem pelos raios catódicos sempre que o canal 1 transmitia “corridas de carros”, eu achava aquilo muito entediante, à excepção, talvez, dos minutos iniciais. Vá lá saber-se porquê, mas quase fazia figas para que a fuçanguice dalgum condutor provocasse um acidente.
Não há nada como aparato da chapa batida para prender a atenção.

Havia, porém, duas provas a que, à custa de tanto alarde, ninguém ficava indiferente. A primeira era o Rally de Portugal, que me recordo ser “da” TAP e mais tarde “do” Vinho do Porto”. Infelizmente, perdeu notoriedade quando foi arredada do Campeonato Mundial de Rallies; na altura comentou-se que foi vítima de tricas e de interesses económicos… Anos volvidos e o “nosso” rally voltou ao circuito mundial, desta feita patrocinada pela Vodafone, mas sem o brilho (para mim) de outrora. 

A segunda prova era o Paris-Dakar. Isto no tempo em que se partia do velho continente e terminava em África. Era a prova mais dura do todo-terreno. Os participantes, “homens com tomates”, “mulheres com ovários” e condutores endinheirados que não se importavam de estafar pequenas fortunas para participar nesta prova, arriscavam a vida nas dunas quentes e traiçoeiras do Sara. Era feérico ver carros de rally, buggies, motos, camiões e uma ou outra extravagância sobre rodas pintalgarem durante dias o maior deserto (quente) do mundo. 
Outra memória que ficou vincada era o noticiário do primeiro dia do ano a dar conta do progresso da corrida e a forma como os intrépidos condutores haviam gozado o reveillon. A prova atravessava o espaço e o tempo, de um ano para o outro.

O Dakar ainda existe. A capital do Senegal está no mesmo sítio, mas é completamente alheia à prova desportiva que lhe usurpou o nome. A corrida Dakar é agora, que é como quem diz desde 2009, disputada no continente sul americano alegadamente por questões de segurança e avançou no calendário. 
Independentemente das prestações lusas, que têm sido notáveis, eu apaguei Dakar do mapa, desportivo, entenda-se. E fico a pensar que, caso se não tivesse tropeçado numa notícia, até era capaz de pensar algo do género: “Dakar?! Isso não acabou?”…