Tuesday, November 21, 2006

Mamma mia!

Neste momento, o meu colega da editora Abril está a atravessar o oceano Atlântico. Dentro de uma hora, provavelmente um pouco menos, o Fábio chegará ao seu destino: aeroporto de Guarulhos. O principal aeroporto de São Paulo.
Para trás ficaram duas semanas muito bem passadas, segundo as suas palavras, no nosso pequeno país e o desejo de voltar para o ano, desta feita, com companhia.
Ontem, no jantar de despedida, ele fez o balanço da sua estada. Visitou Lisboa, parte da linha de Cascais / Estoril, Sintra, Cabo da Roca, Batalha, Porto, Coimbra, Óbidos, Tomar… Gostaria de ter tido mais tempo para ir a Braga, a Guimarães e a Fátima, mas não foi possível. Disse-me que fica para a próxima.
Não lhe disse nada sobre o meu “post”, mas não resisti a perguntar-lhe se passou por alguma experiência gastronómica digna de nota. Sei lá; umas tripas à moda do Porto, um doce conventual, qualquer coisa… Mas não. O Fábio disse-me que é “esquisito” com a alimentação. Além disso, como na maior parte das vezes era “apanhado em trânsito”- comboio às 11:30 ou autocarro às 19:00 – saciava-se com uma simples bucha: sandes, hambúrgueres e salgados. Mesmo não se tratando de um amigo do garfo, acho incrível ele não sentir a mínima curiosidade sobre a culinária tuga, todavia, não me atrevo a censurá-lo porque há imensas pessoas assim!
De volta ao jantar… Até nas últimas horas que antecederam a sua partida, o Fábio demonstrou ser um paulistano cosmopolita e convicto da unha dos pés à ponta dos cabelos. Fizemos a nossa refeição numa pizzaria!
Antes disso, porém, ainda houve tempo para um episódio divertido. Estávamos a passear por um corredor do centro comercial, a caminho do Pizza Hut, quando o Fábio ou o amigo dele esticou o pescoço na direcção do restaurante O Madeirense. Estranhei este súbito interesse, até que alguém disse: - ali dentro devem servir pizzas!
Desfiz o engano e compreendi a leitura errada quando reparei nas cores das saias típicas da Madeira que as funcionárias trajavam. Verde, vermelho, branco... as cores da Itália!
Poucas horas depois despedimo-nos e combinámos o seguinte: ele voltará para o ano e eu aparecerei mais vezes em S. Paulo.

Friday, November 17, 2006

Bife com batatas fritas


Há poucos dias recebi a visita de um colega da “ex-casa mãe” da empresa onde trabalho (até ver…). Depois de vários anos a solicitar informações e a ser guiado por conhecidos em países estrangeiros, pela primeira vez, pensei eu, ser-me-ia atribuída a missão de guia turístico. Para estar mais tempo disponível, resolvi, inclusive, fazer gazeta às aulas de natação. Exagerei nos cuidados! O Fábio Figueiredo, o colega da Editora Abril, gosta de se desenvencilhar sozinho; recebeu várias dicas da sua irmã, que teve o prazer de visitar Portugal há poucos anos – e como é sabido, no nosso burgo as coisas pouco mudam – além disso, tem um amigo brasileiro a viver em Portugal, também na margem sul, há cerca de dois anos.
Trocámos algumas palavras no dia da sua chegada, seguiram-se os comprimentos e larguras da praxe e marcámos encontro para sexta-feira, há uma semana. O Fábio quis conhecer as instalações da minha empresa antes de combinarmos um programa para a noite. Assim sendo, fui buscá-lo a um café de Paço de Arcos, e desempenhei o papel de anfitrião naquela que é a minha segunda casa (não sei por quanto mais tempo…): o edifício São Francisco de Sales.
Enquanto punhamos a conversa em dia, lembrei-me do quão engasgados eram alguns dos meus diálogos com os nativos das terras de Vera Cruz. Para ser bem compreendido é forçoso diminuir o débito de palavras por minuto; abrir bem as vogais e, acima de tudo, “entrar no espírito da coisa”… empregar o gerúndio e termos como celular, ônibus, bonde, trem, pegar, etc. Assim, evitamos as rajadas de “oi?” e “hem?” e os diálogos tornam-se mais escorreitos.
Em menos de vinte minutos, com pausa para café incluída, passámos em revista os vários pisos e departamentos da editora. Aproveitei para sair mais cedo e rumámos a Almada.
Ficámos um bocado na minha cubata para queimar tempo, falámos de trivialidades até que, finalmente, metemo-nos a caminho do repasto e das prometidas “cervas” da noite de sexta-feira.
A downtown de Cacilhas está para os restaurantes e cafés como a rua do Arsenal, em Lisboa, está para o comércio de bacalhau. Se lá há bacalhau fresco, mais e menos salgado, demolhado, caras de bacalhau, línguas de bacalhau, bacalhau da Noruega, da Terra Nova... em Cacilhas há um restaurante indiano especializado em comida italiana, restaurantes chineses, frango nas brasas de carvão e no grelhador eléctrico, casas de petiscos, tabernas, uma casa de fados fingida... Mas a especialidade da terra é o peixe e marisco. As verdadeiras delícias do mar!
Escolhi o Solão Beirão, um estabelecimento sobejamente conhecido por nós, locais, pela relação preço/qualidade. Sexta-feira é, provavelmente, o dia mais movimentado da semana, mas como chegámos relativamente cedo, é-nos dado o privilégio de escolher o lugar/mesa. Sentámo-nos e pouco tempo depois um funcionário entrega-nos a ementa. Aqui é suposto dissertar sobre a fragância do vinho, a importância das castas, a textura do peixe, a suculência da carne, o que é ou não produto da época, a originalidade e alternativa saudável que as ervas aromáticas constituem, em suma, o paliativo português... Todavia, o Fábio dispensou observações. Os seus olhos perscrutaram a ementa e, peremptoriariamente, fez o seu pedido: picanha com batatas fritas e feijão! E para beber: Coca-Cola Light!
Perdi o pio. A picanha em Portugal, naturalmente, não é tão boa como em “sua casa”, mas ele estava determinado. Este episódio lembrou-me o slogan: “Esteja onde estiver...”. Depois de ter pago uma pipa de massa para atravessar um oceano e sofrido dentro de uma caixa de lata durante seis ou sete horas, sem direito a um filmezito, o Fábio deve ter procurado, e aparentemente com êxito, algum conforto na rotina. Se não foi por este motivo, em Roma apeteceu-lhe ser grego!

Friday, November 03, 2006

Prazer imediato


Estou triste. A prestação da casa não pára de subir, os meus electrodomésticos decidiram dar o badagaio, sinto-me desiludido com a minha situação profissional, e mesmo noutros campos, não estou a ver nenhum futuro promissor. Se calhar a culpa é minha; não me esforço o suficiente, emano algum tipo de energia negativa… Sei lá!
Felizmente, redescobri alguma boa disposição e alívio numa mão cheia de trivialidades. Na leitura e música popular, na comédia fácil, nas voltinhas pelo meu bairro. Pelo menos nisto, a sociedade colabora comigo; sinto-me perfeitamente integrado.
O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco, que me fazia companhia nas parcas dezenas de quilómetros que antecedem e sucedem a labuta diária, está a ganhar pó numa prateleira. Agora, as minhas leituras são as “gordas” do 24 Horas, a Dica da Semana, o Metro e o Destak. Às vezes também folheio, com uma tremenda vontade de desfolhar, a Caras.
A minha televisão, enquanto não se juntar à facção dos electrodomésticos rebeldes, saltita entre as séries de ficção do AXN e as SIC Comédia e Radical. Engulo o Sobrenatural, a Cléopatra 2525, Porcos, Feios e Maus, Benny Hill, luta livre americana…
Na internet descobri, aliás, deram-me o link de uma colecção de filmes do Charlie Brown brilhantemente dobrados. É forte, muito forte, mas é hilariante!
O cinema é outra panaceia de eleição. Tenho visto filmes extraordinários como a Senhora da Água; saí da sala praticamente em lágrimas, mas se quero uma válvula de escape, uma anestesia para o meu estado de espírito, é preferível ver um filme de acção pura e dura ou de carne. Melhor ainda: uma combinação de ambos! Foi (parte d)o meu programa no último feriado. Primeiro passei pelo jardim da Estrela para (re)ver os trabalhos da Anabela (http://a-ponto.blogspot.com) . Não resisti e comprei um babete para o meu afilhado.
Ao fim da manhã estava à porta do Alvaláxia para ver o DOA – Guerreiras Mortais. Que coisa mais linda! Elas lutam em roupa interior, em fato de banho, saltam, jogam vólei, dão piruetas, desafiam as leis da física, mas não perdem a pose. Estão sempre graciosas e com a maquilhagem impecável – isto lembra-me as cenas de pancadaria dos cowboys nos antigos filmes de western; por mais socos que os heróis apanhassem ou rebolassem na terra, conseguiam manter o chapéu aprumado e na cabeça!
Enquanto obra cinematográfica, DOA não é mortal, é miserável, mas quero lá saber disso! Já tive a minha dose da Cinemateca, do cinema europeu, do cinema mudo, dos musicais, dos ciclos do King, disto e daquilo… DOA deu-me o que eu queria naquele preciso instante. Comédia, grandes planos de corpos esculturais e sequências de lutas bem executadas.