Monday, April 07, 2008

Elementar, caro telespectador!

A primeira vez que ouvi falar no CSI foi, creio, há quatro anos. Encontrava-me de férias, no estrangeiro, em casa de uma amiga cuja casa tinha acabado de ser assaltada. Ao ver (mos) que a porta e a fechadura haviam sido forçadas, ela foi buscar a réplica de uma espada medieval à garagem, passou-ma para as mãos – aquilo pesava uma tonelada! - e mandou-me entrar em casa, à frente.
Pensei cá para os meus botões: "E se me dão um tiro? Isto é só malucos com armas!".
As feras que ela tinha em casa, dois ou três pequenos e barulhentos animais, vulgarmente conhecidos por "cães a pilhas", não demoveram os prepetradores, mas os latidos que nos chegavam do outro lado da porta podiam ser ganidos; os bichinhos, provavelmente maltratados pelos patifes, podiam precisar da nossa ajuda. Enchi-me de coragem, que é como quem diz esvaziei a mente, e entrei.
Resultado: os cães estavam bem e aparentemente não levaram objectos de valor nem danificaram o interior da casa. Limitaram-se a forçar a entrada da mesma, abriram e remexeram nas gavetas da cómoda do quarto de dormir e piram-se pelas traseiras.
Refeita do susto, a minha amiga telefonou à família e comunicou o episódio às autoridades policiais.
Dez minutos mais tarde somos surpreendidos pelo filho dela que entra esbaforido em casa, trazendo uma pistola na algibeira do casaco, a perguntar por "eles". Este impetuoso mal tem tempo para se acalmar e descansar porque é interrompido pela chegada da polícia. Como criminosos à vista não havia e ele era o único armado, em quê é que não sei, naquela casa, o jovem preferiu sair de cena… também pelas traseiras.
Entra o polícia - isto já parece uma peça de teatro – que naquelas bandas se chama state trooper. Era um tipo jovem, alto e espadaúdo. Rijo de formas e de feições. Vestia uma farda impecavelmente limpa e engomada, encimada por um chapéu idêntico aos da polícia-montada do Canadá. Mal entra, identifica-se e, como ditam as regras da boa educação, tira o chapéu e coloca-o delicadamente em cima de uma poltrona. Impressionante. Nenhuma nódoa, vinco fora do sítio ou pêlo maculava o chapéu.
Porém, este objecto estranho despertou a atenção do nosso melhor amigo, isto é, de três dos nossos melhores amigos, que desatam a cheirá-lo e a empurrá-lo, ainda que devagar, com a cabeça. O fleuma impertubável do polícia sofreu um sismo para aí de cinco e picos na escala de Richter. A partir daqui, o agente havia de dividir a sua atenção entre a nossa segurança e a do seu chapéu, não fossem os canitos fincar os dentes naquele símbolo de poder.
Quando se sentiu mais à vontade, lançou um segundo olhar analítico à casa enquanto calçava calmamente umas luvas de látex. A minha amiga narrou com pormenor os acontecimentos da última meia-hora, omitindo a parte do filho armado, e disse ao agente que não tínhamos tocado em nada. A cena do crime estava intacta!
(continua...)

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