Thursday, September 28, 2006

En garde!



A chuva chegou, viu e foi-se embora. A temperatura tropical; a brisa amena e o sol resplandecente levaram a melhor… Temporariamente.

Para os utentes dos transportes públicos, este rucuo da pluviosidade representa um autêntico armistício. Enquanto o Sol brilhar, o guarda-chuva, essa arma preta, não é desembainhado e fica guardado em casa, para gáudio de muitos.


Se é obrigatório uma licença para conduzir viaturas motorizadas, um porte para as armas de fogo, por que não se cria uma espécie de autorização para os guarda-chuvas? Tenho a certeza de que não sou a única vítima da negligência dos utilizadores deste objecto. A incúria começa logo na forma como se segura e transporta o guarda-chuva. Há os que o levam debaixo do braço, como se uma baguete se tratasse. É uma pose très jolie se não caminhassem com a extremidade aguçada, a baioneta, para trás. Um pequeno passo para trás ou uma mudança de direcção é o suficiente para atingir alguém. Touché!


Os que tacteiam o caminho com ele, à guisa de uma bengala, não são menos felizes. Ora espetam a extremidade na calçada, em bueiros ou em brechas, provocando uma paragem súbita e, consequentemente, um encontrão. O mais frequente é bicar o calçado dos transeuntes. Touché!


Mas o movimento mais perigoso de todos é o “fura olhos”. Pode ser ascendente, quando se abre o guarda-chuva, ou descendente, quando o mesmo é fechado. Há quem execute ambos alheio a tudo e todos. Simplesmente sacam da arma e toma lá disto! Quem estiver dentro do raio de acção das varetas que se proteja. Para tal, é forçoso ter bons reflexos porque o guarda-chuva, no estado inerte, é um pequeno cilindro com cerca de cinco centímetros de diâmetro, mas quando é activado, numa fracção de segundos ocupa uma superfície de 70 ou mais centímetros, quase um metro. É ou não é uma arma de fragmentação? Todavia, continua a ser vendido, escandalosamente, em todas esquinas.


Abaixo o guarda-chuva!

Saturday, September 16, 2006

Agá dois ó

O princípio do fim do Verão começou esta semana, com os primeiros chuviscos de Setembro. Quase por instinto, há quem se sinta compelido a fazer uma retrospectiva dos dias solarengos: o que fez; o que ainda pretende fazer e, sobretudo, o (muito) que ficou por fazer. Até as mentes mais preguiçosas são férteis neste terreno; a partir de Março comprometem-se a explorar praias pouco conhecidas, a fotografar gaivotas na Berlenga, a praticar mais desporto, etc. Eu já me deixei disso porque, ao invés de criar muitas expectativas, prefiro ter os pés bem assentes na terra.
Por falar em terra e água… É nesta altura do ano que retomo as minhas aulas de natação, ou seja, meto água, muita água, porque sou um daqueles indivíduos que dificilmente aprenderá a nadar bem. Tenho uma estrutura óssea relativamente pesada e uma respiração atabalhoada, logo, canso-me num instante; não estico devidamente as pernas; a velocidade da minha locomoção aquática só tem paralelo com o crescimento da economia portuguesa: é lentaaaaaaaaaaa! Mas eu não cruzo os braços e há quase três anos que desafio a paciência dos professores de natação do Belenenses.
Além destes defeitos e feitios, tenho qualquer constrangimento quando estou imerso em água… É estranho, porque não me lembro de ter passado por nenhuma experiência aterradora com água; apanhei um susto num parque de diversões aquático, há muitos anos, quando caí numa piscina com dois metros de profundidade e, praticamente na mesma altura, andei de barco com vários amigos cuja diversão era pôr à prova a estabilidade da embarcação. Estávamos quatro ou cinco dentro do Bobi, o pequeno barco com lotação para duas pessoas. Berrei a plenos pulmões, mas não fiquei com nenhum trauma e depois destas peripécias meti-me em muitas outras; atravesso o Tejo de cacilheiro nunca menos de seis, oito vezes por semana e nas férias não dispenso um passeio num rio ou mar.
Algo se passa comigo, mas o quê não sei... Até a ver um filme sou capaz de sentir um nó no estômago quando o tema é molhado; foi o que se sucedeu quando vi o Armadilha em Alto Mar, há poucos dias. Coitadas das personagens, algures no mar, incapazes de subir para o convés do iate porque se tinham esquecido pôr a escada em posição; condenados à morte por uma questão de centímetros... Tão perto e tão longe. O facto de ver o filme projectado numa tela gigantesca, com 400m2 e o local do visionamento, à beira rio, reforçou a sensação de angústia.
Por vezes, gostaria de ter o poder de Moisés: afastar as águas!

Monday, September 11, 2006

Avante, camarada, avante!

A Revolução Russa deu-se em Outubro, mas em Almada de Leste, os festejos comemorativos da ascensão da esquerda têm início um mês antes, no primeiro fim-de-semana de Setembro, com a Festa do Avante.
Durante muitos anos, como criatura apolítica que tento ser, olhei de soslaio para este evento. Saciava a minha curiosidade ouvindo relatos de amigos e colegas que eram habitués desta festa. Percebi que alguns iam porque eram – aqui o pretérito tem duplo sentido já que lhes perdi o rasto - comunistas acérrimos, mas a maioria não sabia distinguir a política de esquerda da de direita, o que lhes interessava era o centro da rambóia! Três dias de música, com alguns sons alternativos à mistura; confraternização; comezainas típicas… Tudo isto, lá está, regado com a bela da cerveja e, para alguns, defumado com charros.
Tive de esperar muito tempo, quase duas décadas, para me sentir suficientemente tentado a comprar o ingresso de entrada, a famosa EP - entrada permanente. Todavia, fico-me pela intenção porque, vai para cinco anos, tenho um programa mais apelativo cuja data coincide com a da Festa do Avante. Trata-se de um acampamento na Costa Vicentina, mais precisamente entre Vila Nova de Milfontes e Porto Covo.
Vistas bem as coisas, há várias semelhanças entre o meu acampamento e o Avante. Para começar, ambos se situam em distritos governados por comunistas; em poucos dias sinto na pele essa cor política… Adquiro, segundo me dizem, uma tonalidade “alagostada”; fico vermelho, já que a paleta de cores da minha epiderme não inclui o bronze. Os estaminés de comes e bebes e artesanato são substituídos por outro tipo de barracas: tendas. Também elas de todos os tamanhos, feitios e cores. É uma paisagem semelhante! Quem já acampou vários dias seguidos sabe que, inevitavelmente, realizamos certas tarefas que habitualmente são feitas por máquinas, pela mulher a dias, pela mamã… Neste capítulo, cada um sabe de si! São trabalhos que nos aproximam do homem comum, do proletariado; como a lavagem da loiça, a preparação das refeições, a limpeza do domicílio, etc. Para terminar, curiosamente, o parque pertence e é gerido por um sindicato, e isso vê-se e lê-se nas suas instalações.
Por estas e por (muitas) outras, acho que continuarei a dispensar o Avante. É que não há festa como a minha!