Friday, November 17, 2006

Bife com batatas fritas


Há poucos dias recebi a visita de um colega da “ex-casa mãe” da empresa onde trabalho (até ver…). Depois de vários anos a solicitar informações e a ser guiado por conhecidos em países estrangeiros, pela primeira vez, pensei eu, ser-me-ia atribuída a missão de guia turístico. Para estar mais tempo disponível, resolvi, inclusive, fazer gazeta às aulas de natação. Exagerei nos cuidados! O Fábio Figueiredo, o colega da Editora Abril, gosta de se desenvencilhar sozinho; recebeu várias dicas da sua irmã, que teve o prazer de visitar Portugal há poucos anos – e como é sabido, no nosso burgo as coisas pouco mudam – além disso, tem um amigo brasileiro a viver em Portugal, também na margem sul, há cerca de dois anos.
Trocámos algumas palavras no dia da sua chegada, seguiram-se os comprimentos e larguras da praxe e marcámos encontro para sexta-feira, há uma semana. O Fábio quis conhecer as instalações da minha empresa antes de combinarmos um programa para a noite. Assim sendo, fui buscá-lo a um café de Paço de Arcos, e desempenhei o papel de anfitrião naquela que é a minha segunda casa (não sei por quanto mais tempo…): o edifício São Francisco de Sales.
Enquanto punhamos a conversa em dia, lembrei-me do quão engasgados eram alguns dos meus diálogos com os nativos das terras de Vera Cruz. Para ser bem compreendido é forçoso diminuir o débito de palavras por minuto; abrir bem as vogais e, acima de tudo, “entrar no espírito da coisa”… empregar o gerúndio e termos como celular, ônibus, bonde, trem, pegar, etc. Assim, evitamos as rajadas de “oi?” e “hem?” e os diálogos tornam-se mais escorreitos.
Em menos de vinte minutos, com pausa para café incluída, passámos em revista os vários pisos e departamentos da editora. Aproveitei para sair mais cedo e rumámos a Almada.
Ficámos um bocado na minha cubata para queimar tempo, falámos de trivialidades até que, finalmente, metemo-nos a caminho do repasto e das prometidas “cervas” da noite de sexta-feira.
A downtown de Cacilhas está para os restaurantes e cafés como a rua do Arsenal, em Lisboa, está para o comércio de bacalhau. Se lá há bacalhau fresco, mais e menos salgado, demolhado, caras de bacalhau, línguas de bacalhau, bacalhau da Noruega, da Terra Nova... em Cacilhas há um restaurante indiano especializado em comida italiana, restaurantes chineses, frango nas brasas de carvão e no grelhador eléctrico, casas de petiscos, tabernas, uma casa de fados fingida... Mas a especialidade da terra é o peixe e marisco. As verdadeiras delícias do mar!
Escolhi o Solão Beirão, um estabelecimento sobejamente conhecido por nós, locais, pela relação preço/qualidade. Sexta-feira é, provavelmente, o dia mais movimentado da semana, mas como chegámos relativamente cedo, é-nos dado o privilégio de escolher o lugar/mesa. Sentámo-nos e pouco tempo depois um funcionário entrega-nos a ementa. Aqui é suposto dissertar sobre a fragância do vinho, a importância das castas, a textura do peixe, a suculência da carne, o que é ou não produto da época, a originalidade e alternativa saudável que as ervas aromáticas constituem, em suma, o paliativo português... Todavia, o Fábio dispensou observações. Os seus olhos perscrutaram a ementa e, peremptoriariamente, fez o seu pedido: picanha com batatas fritas e feijão! E para beber: Coca-Cola Light!
Perdi o pio. A picanha em Portugal, naturalmente, não é tão boa como em “sua casa”, mas ele estava determinado. Este episódio lembrou-me o slogan: “Esteja onde estiver...”. Depois de ter pago uma pipa de massa para atravessar um oceano e sofrido dentro de uma caixa de lata durante seis ou sete horas, sem direito a um filmezito, o Fábio deve ter procurado, e aparentemente com êxito, algum conforto na rotina. Se não foi por este motivo, em Roma apeteceu-lhe ser grego!

1 comment:

Warrior Princess said...

Hehehehehe! Aí esse Fábio, esse Fábio! Saiu-te cá uma encomenda!!! Devias ter feito publicidade à nossa bela paparoca tuga! Ele nem sabe o que perdeu! :-)