Há quase dez anos, a minha "cromice" pela ficção científica, levou-me a participar num encontro de fãs do Star Trek, em Cascais. Conhecendo o ânimo contido e o bom senso dos portugueses neste tipo de coisas, imaginei um pequeno grupo de entusiastas, "normais", dispostos a trocar ideias e DVDs… pirateados!
Em circunstância alguma imaginei algo semelhantes às convenções norte-americanas, onde os fãs quase elevam as suas séries de eleição à categoria de religião.
Cascais. Mal conheço esta vila, mas as indicações que me haviam dado eram excelentes, verdadeiramente à prova de desorientados. Rapidamente dei com o ponto de encontro, uma loja especializada em BD, filmes, kits, posters, action figures, merchandising diverso… um paraíso para crianças de todas as idades e um inferno para quem compra os brinquedos a essas crianças.
Quando transponho a porta, tal não é o meu espanto quando vejo uma jovem balzaquiana maquilhada da trill Jadzia Dax; uma personagem extraterrestre, idêntica aos humanos, com o pescoço e as orelhas pintalgadas, enfim, tiques da FC de consumo imediato.
Bem, pensei eu para os meus botões, ela é fã dos pés à cabeça, faz jus ao neologismo americano "trekker". Em menos de meia hora juntaram-se-lhe três ou quatro fãs, também vestidos a rigor com a farda da(s) série(s) e ainda traziam acessórios.
Senti-me um veraneante vestido numa praia de nudistas. O estranho, o maluco, o deslocado naquela sala era eu! Trocámos ideias e falámos de trivialidades relacionadas com o universo da "nossa" série, Star Trek.
Pouco depois, confesso que me senti incomodado quando saímos para almoçar. Atravessar Cascais na companhia de "malucos" com roupas bizarras não estava nos meus planos quando saí de casa, mas fi-lo… com alguma cobardia porque, de quando em quando, deixava-me ficar para trás como quem diz "Eu não estou com eles!". Naturalmente, não nos livrámos de ouvir alguns comentários jocosos na rua e no restaurante.
Não fiquei traumatizado nem passei a gostar menos de FC por causa disso. Entre as muitas frases feitas que servem de corolário a determinadas situações, há uma que diz que a arte/ficção imita a vida/realidade. Se quisermos fazer o contrário, é preferível realizá-lo numa terça-feira, 47 dias antes da Páscoa.
Outro episódio, bem mais recente, relacionado com a FC teve lugar na sexta-feira passada, no Observatório Astronómico de Lisboa, onde contemplei, pela primeira vez, vários corpos celestes com o auxílio de um telescópio. Vi Júpiter, enxames de estrelas, a M57 e outros objectos astronómicos referenciados no catálogo de Messier.
Quando reparei nos telescópios postos à disposição do público, fiquei impressionado pelo tamanho e robustez dos mesmos. Pintei na mente telas deslumbrantes do cosmos, dos fenómenos que fizeram parte do meu imaginário; nebulosas, nuvens de gás, satélites, as crateras da Lua, os rios de Marte… As minhas expectivas, já de si altas, cavalgaram quando ouvi as características dos aparelhos ópticos: lente "x" com espelho "y", equipado com motor "z" para acompanhar o movimento da Terra, etc. e tal. Uau!
Chegada a minha vez de espreitar pelo telescópio não quis acreditar no que estava a ver. Estaria a minha retina a enviar os sinais correctos para o cérebro? Não seria melhor tirar os óculos… focar a lente? Mas não. Aqueles salpicos brilhantes, que para um leigo se poderiam confundir com riscos na lente, eram a M57.
Senti uma espécie de desilusão, estava intoxicado pela FC, mas, como se costuma dizer, caí em mim e na realidade. Apesar de tudo, a experiência foi "espacial". Em pouco mais de duas horas descobri imenso sobre a Terra e (re)aprendi a observar o espaço.
Nunca me senti tão pequeno…
Obrigado, Ciência Viva.
Monday, August 04, 2008
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