Thursday, August 17, 2006

Um nó nas tripas












São imensos os elogios tecidos à gastronomia nipónica. Não concordo! É publicidade enganosa! Estive lá, fiz amigos que me recomendaram esta e aquela iguaria e por isso degluti peixe, marisco, doces, chá, carne, cerveja, invertebrados, legumes, frutos, fritos, cozidos, grelhados, nem sequer o fugu, o temível peixe-balão, venenoso e causador de numerosas mortes no Japão, escapou à fúria das minhas papilas gustativas... apesar de tudo, só sei que regressei a Portugal teso como os pauzinhos (waribashi) por que quis provar o máximo de pratos, e descobri que a comida japonesa é uma tortura chinesa!
O peixe cru é sensaborão; perdi a conta dos pratos com sabor a molho de soja; as doses são parcas, demasiado parcas até para quem come pouco. Há, naturalmente, algumas excepções e a apresentação das refeições merece nota vinte na escala do professor Marcelo. A disposição dos alimentos e a paleta de cores dos mesmos é um regalo para a vista. Todavia, os olhos comem mas não saciam a pança!
Há qualquer coisa no meu âmago que me impele a fazer esta e muitas outras experiências. É mais forte do que eu, e não é preciso carimbar o passaporte para abraçar novas experimentações. No último fim-de-semana aproveitei o facto de estar em terra alheia, no Porto, para me submeter a duas especialidades locais: tripas à moda do Porto e francesinha.
Antes disso, porém, um amigo alertou-me para o odor desagradável das tripas. Imaginei que sim e fiquei a pensar se o sabor valia o sacrifício. Não matutei mais nisso até ao dia e hora exactos.
Sábado, 12:00. Em circunstâncias normais seria cedo para almoçar, mas como acordei às seis e tal da manhã para apanhar o comboio, já tinha a barriga a dar horas. Entrei num restaurante e consultei a lista de pratos do dia: bifes de peru, rojões, bacalhau, tripas… Cá estão elas! O preço é simpático, o estabelecimento é acolhedor… Fiz o meu pedido e depeniquei duas fatias de pão de milho enquanto esperava pelas famosas vísceras. Ocasionalmente, vinha da cozinha um pivete que supus tratar-se das tripas. 15 minutos depois os meus receios confirmaram-se. As tripas têm aspecto de dobrada; estão lá os feijões; a dose de arroz; o molho espesso; os bocados de estômago; mas, para mim, isso não passa de camuflagem. A fragância é, no mínimo, desagradável! Sempre que aproximo a colher da boca, torço o nariz e expiro. E o sabor é outra desilusão. É acre! Azedo! Já que os feijões estão a nadar neste caldo infernal - estão contaminados! - aponto as minhas baterias para o arroz, servido numa pequena travessa à parte. Meia hora depois e muitas colheradas engolidas, sinto-me como um miúdo. Orgulhoso por ter comido a papa toda… não foi exactamente toda, mas é como se fosse. Já está… Mas nunca mais me falem em tripas à moda do Porto!
A francesinha tem um nome que lhe faz jus. É um prato de bar/snack com uma apresentação cuidada, é très chic! Tem boas cores, ingredientes diversificados como o pão, o queijo, o bife, as salsichas frescas, a linguiça, o fiambre, o bacon e o molho - dizem os entendidos que o segredo está no molho – para efeitos práticos é uma tosta mista elevada ao superlativo! Apesar de ser uma bomba para o colesterol, soube-me bem melhor do que as tripas.
Não tive tempo para provar o bacalhau à Gomes de Sá. Fica para a próxima, mas já ouvi dizer que há produtos novos nos supermercados indianos e chineses do Martim Moniz.
Tenho de ver isso de perto…

1 comment:

Warrior Princess said...

Diz-se por aí que não há nada melhor do que estar sentado à mesa com os amigos, a comer e a beber! Em parte, até concordo... até tem o seu "q" de verdade, a não ser quando outros prazeres se sobrepõem...
Para mim, esse prazer potencializa-se quando degustamos novas iguarias, cores, cheiros e sabores! É sempre bom experimentar o desconhecido! Mesmo que a seguir se acho este ou aquele sabor uma verdadeira afronta às papilas gustativas... Mas... experimentou-se! Acho "piada" aqueles que dizem: "Odeio isto!"; "Sou incapaz de comer aquilo!". Como é que é possivel tecerem estes comentários, se nunca provaram? Como é que se pode dizer "A Queijada de Amêndoa é o meu bolo favorito!", se nunca se experimentou o pastel de nata?
Já agora...a quem nunca experimentou, aconselho a cozinha da Palestina! Simplesmente divinal!
E quanto ao Bacalhau à Brás... caro "País Cinzento", já que não tiveste oportunidade de o provar no Porto, aconselho-te um restaurante que fica entre Mafra e a Ericeira! Tem um Bacalhau à Brás de babar...E quando experimentares os novos produtos chineses e indianos... compartilha! ;-)