A primeira vez que participei numa caminhada “a sério”, daquelas que aparecem nos mapas, com percursos assinalados, distâncias e nível de dificuldade medidos, foi há pouco mais de três anos. Então, estava de férias em Fairbanks, uma cidade no coração do Alasca. Lembro-me que o programa de actividades para esse dia incluia uma caminhada de 12 ou 14 milhas numa zona montanhosa chamada Angel Rocks; seguido de uma ou duas horas nas termas de Chena, para relaxar depois do esforço dispendido. Se ainda tivesse tempo e disposição, Gary, o meu companheiro de caminhada, emprestava-me a arma que tinha no carro e fazíamos tiro ao alvo. Americanices!
No dia anterior, enquanto revíamos o trajecto, o Gary perguntou-me se eu estava em forma. Como costumo dizer, em forma estou sempre; posso é estar numa forma arrendondada. Porém, não era o caso. Nunca tive saúde de ferro nem corpo de deus grego, mas na altura andava poucos quilómetros todos os dias, praticava natação e ténis quase religiosamente. Gozava, pensava eu, alguma pujança fisica!
Os primeiros quilómetros foram “piece of cake”, bastante fáceis, apesar dos passos estugados do Gary que impunham um ritmo acelerado ao andamento. Só disparei a pergunta da praxe: “falta muito?”, quando me apercebi que o trajecto era invariavelmente ascendente. Não me queixei do tipo de solo, mais ou menos pedregoso e que constituia por si só um embaraço, mas desesperava e exasperava com as subidas!
Rapidamente, fiz com que o Gary deixasse de caminhar a toda a brida porque eu, a determinada altura, quase andava pé ante pé e resfolgava. Enquanto eu admirava a paisagem deslumbrante do Alasca, o sacripanta do Gary contemplava outro espectáculo: eu, o europeus fraquitus. Um mamífero omnívoro cujo habitat é, definitivamente, a planície.
Quando cheguei ao meu Gólgota, respirei de alívio… com os bofes de fora. Sabia que, a partir daquele ponto, os (muitos) quilómetros que ainda tinha pela frente, eram mais suaves e quase sempre a descer. Não obstante os perigos e o grau de inclinação, sempre tive uma relação muito boa com as descidas.
No fim da caminhada, olhei para as termas com a mesma sofreguidão com que um perdido no deserto olha para um oásis. Água, civilização, cadeiras, sombra, comida… tanta coisa boa ao meu alcance.
Mais tarde descobri que aquela caminhada, segundo os guias turísticos, costuma ser feita em 5-6 horas. Eu e o Gary fizemo-la em 4 horas e vinte minutos! Além disso, devido ao esforço, o meu amigo americano mal se mexeu nesse dia. Só se levantou da cama para jantar. Eu não! Ainda tive energia para dar umas quantas voltas pela cidade, para ir às compras, etc.
Não fiquei traumatizado, mas foi com alguma apreensão que voltei a fazer caminhadas.
É verdade que já andava a burilar esta ideia há alguns meses, mas sempre que pensava nas subidas, um arrepio gelado percorria-se-me a espinha. Como é normal nestas situações, só precisei de convite e de palavras de incentivo: “Vá lá! Isto não custa nada! Tu até estás em forma! Esta é muito acessível! “
Tanto gostei que já repeti a dose e pretendo continuar… Mesmo sabendo que, mais tarde ou mais cedo, hei-de apanhar umas subidas jeitosas.
Thursday, February 22, 2007
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