Ricardo, primo do meu amigo Álvaro, trabalha em Estugarda, Alemanha, há quase um ano. Neste lapso de tempo, devo tê-lo visto umas três ou quatro vezes, por ocasião das suas férias. Quando ele se junta ao nosso pequeníssimo grupo da “bica após o jantar”, um dos temas é, forçosamente, a diferença de Portugal versus Alemanha... Falamos de um pouco de tudo; do custo de vida, da produtividade de um e de outro país, do civismo dos habitantes, dos transportes públicos que, segundo o Ricardo, na Alemanha têm uma simplicidade, eficácia e pontualidade irrepreensíveis, e isto em toda a extensão, não apenas no ponto de partida. Como exemplo, o Ricardo costuma mencionar uma paragem insólita na clareira de uma floresta, situada no trajecto de casa para o trabalho. Ao fim de tantos meses, ele nunca viu ninguém na dita cuja à espera de autocarro, nem vivalma se apeou lá. No entanto, o motorista daquela carreira detém-se na estranha paragem à hora de sempre, abre a porta de entrada, se a temperatura assim o permitir, e espera o tempo programado. Uma vez cumprido o horário, o motorista arranca e prossegue viagem. Uma cena digna da Quinta Dimensão!
Nós, em Portugal, estamos habituados a horários mais flexíveis do que uma contorcionista chinesa. Logo no terminal, no início da carreira dos autocarros, muitos motoristas são tentados a sair um minutinho antes do horário previsto se não surgir nenhum passageiro no horizonte… E quem já está no interior da viatura até agradece: chega mais cedo ao seu destino.
As paragens insólitas no nosso cantinho não têm o encanto de uma floresta encantada na Baviera, mas são nossas, e eu conheço umas poucas na Estrada de Paço de Arcos e na Estrada Nacional 10. São paragens em ermos e quando alguém pára diante delas é porque está à espera do autocarro. Todavia, há motoristas que ainda não perceberam isso, e em vez de abrandarem de forma a tornarem-se mais visíveis à distância, não vá o “candidado a passageiro” estar distraído a ler, a ouvir música… continuam a queimar borracha para fazer jus ao mote “a recta convida a acelerar”.
Mas nem tudo é mau. Há motoristas que, por iniciativa própria, fazem os seus pequenos ajustes aos horários mal concebidos, sobretudo nos interfaces barcos/comboio/autocarro. Sabem, por exemplo, que a sua carreira recebe numerosos passageiros de outro meio de transporte que está previsto chegar cerca de 40 segundos a um minuto após a sua hora de partida. Qual é a estratégia que o motorista adopta para recolher estes passageiros? Atrasa a partida o máximo que pode e quando arranca, fá-lo com a porta aberta e a passo de caracol. O truque resulta! É (uma das muitas facetas d)o jeitinho português! Dificilmente o Ricardo verá isto em Estugarda, mas em Cacilhas é a coisa mais normal do mundo.
Tuesday, January 16, 2007
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1 comment:
Enfim...é o nosso pequeno Portugal! lol
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